ATENÇÃO

As opiniões aqui contidas são pessoais e não representam recomendação de compra ou venda de ativos financeiros.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Final de ano: Chance de aprendizado

*Por Paulo Sternick - 07/12/10

Mais um ano termina, e o investidor certamente já foi lembrado que esta é a hora de fazer um balanço de suas aplicações financeiras. Porém, um melhor proveito deste momento vai além dos números e da simples contabilidade de perdas e ganhos. Para quem deseja prosseguir no mercado, convém ir mais adiante e extrair algumas lições a partir da observação e reflexão sobre seus próprios movimentos e avaliar com mais seriedade as características do mercado.

Para os que estão desanimados com eventuais perdas, nunca esquecer que elas podem se converter em prelúdio de fortes ganhos no ano que se inicia. Para tanto, um aplicado e sincero olhar para os próprios pontos vulneráveis, erros de avaliação e teimosias ajudam a ficar mais resistente para enfrentar as ondas que vêm pela frente e aproveitar as oportunidades de ganho. Mas vocês acham que os que ganharam dinheiro estão livres disso? Muito pelo contrário: a vitória pode causar um sentimento de triunfo, poder e saber – e são sobre estes que se iludem com sua invencibilidade que o mercado costuma penalizar com menos clemência na hora mais imprevista.

A bem da verdade, não é preciso esperar pelas viradas de ano para se fazer um balanço e extrair elementos para aprender com a experiência. De fato, especialmente para quem está aplicando na Bolsa de Valores, todo dia é dia de tirar uma lição, inclusive de delimitar especificamente qual é a realidade sobre a qual se precisa aprender. Digo isto porque o mercado é um sistema dinâmico, sempre se movimentando e oscilando a maior parte do tempo. E - o que é ainda mais inquietante - sua maneira de dançar é com frequência inesperada e irregular, nem sempre com simetrias conhecidas. Os índices de volatilidade são teóricos, sem prospectar o futuro incognoscível, e também, eles próprios, sujeitos a volatilidade.

Então, vejam o paradoxo com o qual nos deparamos: precisamos aprender com a experiência, mas o objeto dessa experiência, o mercado, está sempre mudando! Há um número enorme de variáveis que não controlamos, o cenário é complexo e nebuloso, ninguém pode prever, à semelhança dos meteorologistas, qual o tempo daqui a uma semana – seja da economia mundial e do mercado como um todo, seja dos setores ou de empresas isoladas. Desse jeito, para uma atitude vencedora, é preciso em primeiro lugar “respeitar o inimigo” e tomar conhecimento profundo de suas características. E operar com gestão de risco.

De fato, este talvez seja um dos principais elementos desta realidade – que a faz tão fascinante e sedutora - da qual é necessário aprender com a experiência: o mercado imprevisível, não-linear, com um pé no caos e na complexidade, e o outro em sua dimensão eficiente, racional e também na possibilidade de ser vislumbrado. A vida mostra que fatos súbitos podem abalar o sono descansado da razão: na Bolsa ficamos sujeitos a descontinuidades. O ano de 2010, por exemplo, parecia que seria tumultuado por problemas do déficit americano, mas a economia brasileira acenava com um crescimento chinês, e casas de análise chegavam a prever otimistamente o Ibovespa em torno de 85 mil pontos.

Mas eis que emergiram os problemas de risco de default, primeiro da Grécia, depois da Irlanda, com temores ainda sobre Espanha e Portugal. Os chineses também jogaram água fria nos mercados mundiais aumentando juros e compulsórios para evitar preventivamente o surgimento de bolhas. O que, aliás, poderia ser comemorado pelo mercado, como evidência de segurança e previsibilidade, mas um crescimento menor por lá diminui a expansão mundial e o lucro das empresas. Ou assim se presume! Pois o mercado é assim: muito sensível a sinais, indícios, temores, suspeitas, esperanças, desejos: ele reage de forma exagerada, quer se antecipar, sair na frente – tudo acontece e muda de forma muito rápida e nem sempre muito racional e proporcional às mudanças iniciais dos fatos.

Então, cada investidor, claro, tem sua maneira muito pessoal de operar, a qual ele pode aprimorar aprendendo com o histórico de suas operações, ao tolerar, e não se evadir de suportar as frustrações de reconhecer equívocos ou indulgências com o risco. E também reconhecer seus temores exagerados de arriscar mesmo com certo controle de risco, pois tem também à disposição carteiras conservadoras ou índices do benchmark. Mas antes de tudo, precisa reconhecer as características do mercado em que se move, e o aprendizado desta experiência é interminável. Pois nunca podemos definir o mercado de maneira homogênea: ele é aleatório, mas não apenas aleatório. Ele é imprevisível, mas contém momentos ou áreas de previsibilidade. É um mercado eficiente e não eficiente. Como diria o matemático e lógico John Allen Paulos, “há bolsões de ordem em meio ao ruído”.

Por isso, é importante o estudo permanente e sistemático e a atenção às opiniões dos analistas e às ferramentas desenvolvidas para a compreensão e atuação com menos risco. Eles não são infalíveis, não garantem a previsibilidade absoluta –afinal, há apenas “bolsões de ordem” em meio à complexidade - mas ajudam muito a compreender os movimentos. E são ainda mais úteis se servirem como inputs para o pensar do investidor, e não como outputs definitivos e conclusivos. São mais informações e possibilidades de compreensão e discussão do que profecias definitivas.

Antes de tudo, o investidor terá proveito se puder aprender com a experiência mais íntima de si próprio: estará ele se entregando de maneira muito fanática e emocional a seus investimentos? Sofrendo angústias exageradas por causa do mercado? Operando compulsivamente, viciado no home broker e prejudicando a saúde e o bem estar físico e mental? Afastando-se da família e dos relacionamentos? Sabemos que esta atividade pode ser fascinante, criativa e, a cada vez, um instigante desafio. É arriscadamente absorvente, se não houver equilíbrio, senso de proporção e limites. Pois, a saúde pode ser prejudicada, a emoção e o vício atrapalham os negócios. É bom aproveitar a virada do ano para refletir sobre estes pontos e poder operar em 2011 com saúde e boa rentabilidade. Boa sorte e tintim!

*Paulo Sternick é psicanalista e estudioso de psicologia econômica. É autor convidado da Ágora.

"As opiniões contidas neste artigo refletem exclusivamente as opiniões pessoais do autor sobre o tema e foram elaboradas de forma independente e autônoma em relação à Ágora."

Para refletirmos !

Abraços,
Xico Trader

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